segunda-feira, 9 de março de 2020

Diário de uma mãe de primeira viagem #14 - Balanço da minha "pausa" na licença para um mês de trabalho

[A três dias do regresso a casa]
Depois dos primeiros dias em que senti na pele (e principalmente no cérebro) os efeitos da privação de sono (motivada principalmente por insónias, porque quanto ao restante cenário habitual de 3 a 4 despertares noturnos já me "habituei" de certa forma), começou a correr tudo melhor. Voltei a sentir-me minimamente bem durante o dia, e a conseguir raciocinar decentemente no trabalho. Na verdade, deixei de me sentir muito cansada (como me sentia quase todos os dias em que estava em casa de licença) para sentir-me "só" cansada. E agora que vou voltar para casa e sei que o Gu (que já pesa quase 9kg) ainda precisa de muito colo para adormecer durante o dia... confesso que não fico aos pulos de contente com a ideia do regresso.
Tal como nos primeiros dias, não morri de saudades do meu filho, nem passei os dias a pensar nele. E era muito boa a sensação de chegar a casa cheia de vontade de passar tempo de qualidade com ele, depois de umas horas separados. Não sei qual será a sensação de ir trabalhar e deixar o nosso filhote na creche: para já só sei o que é deixá-lo com o pai. E essa realidade deixou-me (como deixa sempre, independentemente de se vou trabalhar ou fazer outra coisa qualquer) completamente tranquila e descansada. A única coisa que pedia ao pai para fazer todos os dias era informar-me dos sonos e de quando o Gu bebia o biberão. Desde que ele fizesse isso eu não o "chateava" com mais perguntas. Nos primeiros dias confesso que estava sempre a olhar para o telemóvel principalmente à hora do biberão, mas depois até em relação a esse assunto consegui relaxar. Felizmente até hoje o Gustavo nunca rejeitou um biberão (usámos sempre o tetina calma da Medela).
A única parte verdadeiramente chata associada ao trabalho foi mesmo o ter que extrair leite à hora de almoço: para além de ser um tédio, de não ser a atividade mais confortável do mundo e de retirar algum tempo, sentia-me sempre uma espécie de criminosa por estar a fazê-lo com receio de aparecer alguém, apesar de ter sempre quem me ajudasse a assegurar que não apareciam "intrusos" (a casa de banho não era opção por falta de condições).
O balanço deste mês foi claramente positivo. Foi bom sair da "bolha" em que tenho vivido nos últimos meses, voltar a fazer coisas não relacionadas com a maternidade, arranjar-me todos os dias e vestir roupa "decente" (apesar de continuar a não poder vestir os meus ricos vestidos sem botões por causa de ter que tirar leite) e matar saudades de alguns colegas.
Sempre achei, mesmo antes de ter filhos, que não seria pessoa de me sentir 100% realizada a ser "só" mãe. E agora que sou mãe - e passados aqueles tempos iniciais em que só conseguia efetivamente viver em exclusivo para o meu bebé - confirmo isso. Acho que até me tenho "safado" bem neste que é, sem dúvida, o papel mais difícil que já desempenhei na vida, mas faz-me bem sentir-me útil também "noutras frentes". 

4 comentários:

  1. "Sempre achei, mesmo antes de ter filhos, que não seria pessoa de me sentir 100% realizada a ser "só" mãe."

    Obrigada por este laivo de normalidade. 90% do que lemos e ouvimos faz-nos pensar que se não vivemos apenas para e em função dos filhos, não somos boas mães.

    Que a tua experiência, com o teu equilíbrio, continue a correr bem :)

    Depois podes partilhar como foi a tua opção na licença? Obrigada!

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    1. Posso sim 😊. O Gustavo só vai para a creche em setembro (com um ano, mas depois faço um post sobre isso 😊. Beijinho

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  2. Olha, a minha fica na creche e também não passo o dia a pensar nela. Nos primeiros tempos foi mais difícil, mas ela adaptou-se bem e agora adora, tanto que nunca quer vir para casa ao fim do dia, quer que eu fique lá a brincar com ela. Por isso, agora até tenho um dia em que estou de folga do trabalho e ela vai para a creche na mesma, para eu poder ter um bocado de tempo para mim... e não é por isso que gosto menos dela, mas tenho de gostar de mim também!

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    1. Eu acho que é muito saudável continuarmos a ter momentos nossos e acima de tudo conseguirmos desfrutar deles sem nos sentirmos mal por isso.

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