Dia 14 de outubro a nossa aventura enquanto pais de primeira viagem completou um mês. Um mês! E quais foram os principais marcos deste mês?
Os primeiros dias foram muito, muito duros. Muitas dores nas costas, na zona onde tinha levado mil tentativas falhadas de epidural (estas dores continuaram durante um mês ou mais), adaptação a uma nova rotina de acordar várias vezes durante a noite e, a mais difícil de todas, a adaptação à amamentação. Se eu pudesse dar só um conselho às futuras mães - as que pretendam amamentar, pelo menos - seria procurarem ajuda de uma profissional especializada assim que o bebé nasce e, acima de tudo, no momento da subida do leite. Acho que até tive sorte, porque "só" sofri a sério para aí uma semana, mas acho mesmo que se todas as mulheres tivessem apoio especializado nos primeiros dias que para aí 95% dos casos que correm mal poderiam ser evitados. Não que fosse deixar de existir dor por completo, mas que ela diminuiria em larga escala com as técnicas certas, não duvido nada. E fico mesmo triste de pensar nos casos de mulheres que desistem só porque não tiveram o apoio necessário para conseguir ultrapassar as maiores dificuldades.
Vou falar do meu caso em especial, e quem não tiver interesse no assunto aconselho que passe à frente (mas acho mesmo importante deixar aqui o meu testemunho. se ajudar uma única pessoa no futuro já terá valido a pena). Na mesma altura em que tive a subida do leite (e com ela umas maminhas a ficarem duras e a doer horrores, e eu a sentir-me fraca e a ficar muito quente, e sem saber como se faziam as massagens para amenizar aquilo), tinha também um mamilo em ferida, pelo que decidi fazer uma pausa naquela maminha até a coisa melhorar (ia tirando algum leite com a bomba nos entretantos). Quando cheguei ao pé da enfermeira milagrosa com quem tive a consulta da amamentação, não usava a maminha ferida há dois dias. Ela disse-me que me ia ensinar uma pega de correção e mandou-me preparar para dar aquela maminha (a que estava em ferida). Eu até tremi. "Esta?". Pois que sim, a que tinha o mamilo ferido. Qual não foi o meu espanto quando o fiz com a técnica que a enfermeira indicou e...não doeu! Quando comentei "Por acaso não está a doer" a enfermeira riu-se e disse "Não é por acaso. Não é suposto doer.". Uma verdadeira fada que cruzou o meu caminho.
Outro aspeto de que acho importante falar é o famoso baby blues. Eu sou uma pessoa bastante sensível mesmo sem estar grávida ou em fase de pós parto, mas nos dias depois de ter o meu filho a coisa ganhou proporções ligeiramente assustadoras. Começou quando, no segundo dia de vida do meu filho, ainda na maternidade, chorei quando o vi chorar porque o tinham despido para lhe dar banho. Sim, só porque vi o meu filho chorar.
Uns dias mais tarde, quando fomos ao hospital fazer o teste do pezinho, tinha o Gustavo 4 ou 5 dias, dei por mim lavada em lágrimas na sala de espera do hospital (mas aí o principal culpado era a amamentação. e o sofrimento físico em que me encontrava).
O episódio mais recente de choro descontrolado que tive foi no dia em que o Gustavo fez um mês, quando fui à consulta de pós parto com a minha obstetra. A consulta era em hora de ponta, de manhã cedo, num dia em que chovia sem parar, pelo que decidi ir sozinha e deixar pai e filho em casa. Chegou à hora da minha consulta e vi entrar uma pessoa antes de mim. Depois dessa entraram mais três e passou-se mais de 1h30m. Quando vi entrar a quarta pessoa desfiz-me em lágrimas (numa sala de espera cheia de gente). Eu sabia que o meu filho estava bem acompanhado e que tinha deixado leite no frigorífico, mas dei por mim a imaginá-lo com fome e a sentir a minha falta...eu sei lá, sabia que estava a fazer uma figurinha desgraçada a meio de tantas pessoas estranhas mas não consegui mesmo evitar. Entrei no consultório lavada em lágrimas e a pedir desculpa à médica pela minha figurinha.
De resto acho que passei pelo que a maioria das pessoas passa: zero paciência para comentários alheios que não foram pedidos (principalmente quando o assunto é a alimentação da criança). Zero vontade de ter visitas em casa que não fossem pessoas mesmo muito próximas (ou melhor, que não fossem a minha mãe). Zero vontade que tocassem nas mãos do meu filho ou lhe dessem beijinhos. E uns primeiros dias de muito sofrimento que foram dando lugar a dias mais leves (ou menos pesados, vá) à medida que o meu amor e disponibilidade para com o meu pequenino aumentavam.
Sabem aquela coisa de o nosso filho nascer e sentirmos automaticamente um amor avassalador e aquele ser o dia mais feliz das nossas vidas? Eu não sei. Não senti isso. Foi tudo super intenso e especial, sem sombra de dúvida. Mas a felicidade e o amor avassalador têm chegado gradualmente. E se o amor está sempre lá presente, a felicidade vai estando - numas alturas mais que noutras (que uma pessoa não é de ferro e tem dificuldade em estar feliz quando a criança chora. ou quando acorda a meio da noite). E está tudo bem. Faz parte. Se não da experiência de todas as mães, pelo menos da minha.
Não diria que foi o mês mais feliz da minha vida, mas foi certamente o mais desafiante, preenchido e em que mais cresci a todos os níveis (inclusive no coração, com o seu novo inquilino tão especial).