sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Diário de uma mãe de primeira viagem #6 - Balanço do primeiro mês de maternidade

Dia 14 de outubro a nossa aventura enquanto pais de primeira viagem completou um mês. Um mês! E quais foram os principais marcos deste mês?
Os primeiros dias foram muito, muito duros. Muitas dores nas costas, na zona onde tinha levado mil tentativas falhadas de epidural (estas dores continuaram durante um mês ou mais), adaptação a uma nova rotina de acordar várias vezes durante a noite e, a mais difícil de todas, a adaptação à amamentação. Se eu pudesse dar só um conselho às futuras mães - as que pretendam amamentar, pelo menos - seria procurarem ajuda de uma profissional especializada assim que o bebé nasce e, acima de tudo, no momento da subida do leite. Acho que até tive sorte, porque "só" sofri a sério para aí uma semana, mas acho mesmo que se todas as mulheres tivessem apoio especializado nos primeiros dias que para aí 95% dos casos que correm mal poderiam ser evitados. Não que fosse deixar de existir dor por completo, mas que ela diminuiria em larga escala com as técnicas certas, não duvido nada. E fico mesmo triste de pensar nos casos de mulheres que desistem só porque não tiveram o apoio necessário para conseguir ultrapassar as maiores dificuldades.
Vou falar do meu caso em especial, e quem não tiver interesse no assunto aconselho que passe à frente (mas acho mesmo importante deixar aqui o meu testemunho. se ajudar uma única pessoa no futuro já terá valido a pena). Na mesma altura em que tive a subida do leite (e com ela umas maminhas a ficarem duras e a doer horrores, e eu a sentir-me fraca e a ficar muito quente, e sem saber como se faziam as massagens para amenizar aquilo), tinha também um mamilo em ferida, pelo que decidi fazer uma pausa naquela maminha até a coisa melhorar (ia tirando algum leite com a bomba nos entretantos). Quando cheguei ao pé da enfermeira milagrosa com quem tive a consulta da amamentação, não usava a maminha ferida há dois dias. Ela disse-me que me ia ensinar uma pega de correção e mandou-me preparar para dar aquela maminha (a que estava em ferida). Eu até tremi. "Esta?". Pois que sim, a que tinha o mamilo ferido. Qual não foi o meu espanto quando o fiz com a técnica que a enfermeira indicou e...não doeu! Quando comentei "Por acaso não está a doer" a enfermeira riu-se e disse "Não é por acaso. Não é suposto doer.". Uma verdadeira fada que cruzou o meu caminho.


Outro aspeto de que acho importante falar é o famoso baby blues. Eu sou uma pessoa bastante sensível mesmo sem estar grávida ou em fase de pós parto, mas nos dias depois de ter o meu filho a coisa ganhou proporções ligeiramente assustadoras. Começou quando, no segundo dia de vida do meu filho, ainda na maternidade, chorei quando o vi chorar porque o tinham despido para lhe dar banho.  Sim, só porque vi o meu filho chorar. 
Uns dias mais tarde, quando fomos ao hospital fazer o teste do pezinho, tinha o Gustavo 4 ou 5 dias, dei por mim lavada em lágrimas na sala de espera do hospital (mas aí o principal culpado era a amamentação. e o sofrimento físico em que me encontrava). 
O episódio mais recente de choro descontrolado que tive foi no dia em que o Gustavo fez um mês, quando fui à consulta de pós parto com a minha obstetra. A consulta era em hora de ponta, de manhã cedo, num dia em que chovia sem parar, pelo que decidi ir sozinha e deixar pai e filho em casa. Chegou à hora da minha consulta e vi entrar uma pessoa antes de mim. Depois dessa entraram mais três e passou-se mais de 1h30m. Quando vi entrar a quarta pessoa desfiz-me em lágrimas (numa sala de espera cheia de gente). Eu sabia que o meu filho estava bem acompanhado e que tinha deixado leite no frigorífico, mas dei por mim a imaginá-lo com fome e a sentir a minha falta...eu sei lá, sabia que estava a fazer uma figurinha desgraçada a meio de tantas pessoas estranhas mas não consegui mesmo evitar. Entrei no consultório lavada em lágrimas e a pedir desculpa à médica pela minha figurinha.
De resto acho que passei pelo que a maioria das pessoas passa: zero paciência para comentários alheios que não foram pedidos (principalmente quando o assunto é a alimentação da criança). Zero vontade de ter visitas em casa que não fossem pessoas mesmo muito próximas (ou melhor, que não fossem a minha mãe). Zero vontade que tocassem nas mãos do meu filho ou lhe dessem beijinhos. E uns primeiros dias de muito sofrimento que foram dando lugar a dias mais leves (ou menos pesados, vá) à medida que o meu amor e disponibilidade para com o meu pequenino aumentavam. 
Sabem aquela coisa de o nosso filho nascer e sentirmos automaticamente um amor avassalador e aquele ser o dia mais feliz das nossas vidas? Eu não sei. Não senti isso. Foi tudo super intenso e especial, sem sombra de dúvida. Mas a felicidade e o amor avassalador têm chegado gradualmente. E se o amor está sempre lá presente, a felicidade vai estando - numas alturas mais que noutras (que uma pessoa não é de ferro e tem dificuldade em estar feliz quando a criança chora. ou quando acorda a meio da noite). E está tudo bem. Faz parte. Se não da experiência de todas as mães, pelo menos da minha.
Não diria que foi o mês mais feliz da minha vida, mas foi certamente o mais desafiante, preenchido e em que mais cresci a todos os níveis (inclusive no coração, com o seu novo inquilino tão especial).

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Diário de uma mãe de primeira viagem #5 - A terceira semana, as cólicas, e o meu regresso ao ginásio


Confesso que antes de ter filhos (e na vida em geral) enervam-me os discursos fatalistas (normalmente de pessoas frustradas, ou que acham que a sua experiência de vida é verdade universal) de pessoas que se riam na minha cara quando eu falava em manter um mínimo de vida extra bebé quando tivesse filhos. Ouvi de tudo: em relação a ler livros, ver séries, viajar. "Tu esquece lá isso". Como se a vida acabasse. E eu sempre me calei enquanto pensava "Veremos". E agora posso dizer - independentemente do que venha a acontecer no futuro- que pelo menos enquanto estivemos os dois em casa de licença houve tempo para fazer a lida da casa, para ele jogar, para eu ler, e para vermos alguns episódios das nossas séries. Nem sempre sem interrupções e nem sempre na altura em que tínhamos previsto inicialmente, mas lá fomos conseguindo sim. E isso, a par do sono, faz um bem tremendo à nossa sanidade mental.
Uma coisa em que mudei depois de ser mãe, no entanto, foi o não conseguir passar muito tempo em casa sem começar a "bater mal". Eu, que era aquela pessoa que não conseguia passar um dia inteiro fechada em casa (sou demasiado "hiperativa") passei a ficar às vezes dois dias seguidos, quase sem dar por ela. Normalmente ao 3.º dia obrigávamo-nos mesmo a sair, porque também nos faz bem, mesmo quando a preguiça da logística toda associada a sair com um bebé nos quer convencer que não precisamos assim tanto.
Na terceira semana deixámos de ter um bebé que praticamente não chorava, para um que, pobrezinho, começou a ter episódios de cólicas. A parte menos má disto é apenas a de que as cólicas raramente são durante a noite. Mas, noite ou dia, parte o coração ver o nosso pequenito a sofrer sem conseguirmos fazer grande coisa para ajudá-lo.
Um marco importante da minha vida de recém mãe foi o regresso ao ginásio. Como tive parto normal, tinha autorização para retomar (gradualmente e sem loucuras) a atividade física após duas semanas. Mas como estou a amamentar em exclusivo estava a custar-me sair de casa e dar-lhe biberão com leite materno (tinha pavor que lhe piorasse as cólicas por estarmos a dar biberão). Mas lá experimentámos uma vez o biberão, ele aceitou, e nessa noite, ao 23º dia de vida do Gustavo, eu fui ao ginásio fazer a minha tão adorada aula de Pilates. E voltar a fazer a aula sem adaptações para grávida foi tão, tão bom. Cheguei a casa para um bebé que ainda dormia, sem ter sido preciso usar o biberão que tinha ficado no frigorífico.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Diário de uma mãe de primeira viagem #4 - Segunda semana de vida, primeiros passeios e o sono (dele e nosso)

No dia 23 de setembro - tinha o nosso bebé 9 dias - sentimo-nos pela primeira vez com os mínimos exigíveis de energia para sair de casa os três sem ser para ir ao médico. A ideia inicial era pôr a criança no sling. Experimentou o pai, experimentei eu...e antes de desistirmos completamente da ideia (porque não estávamos a conseguir encaixá-lo decentemente e começámos a stressar) lá pegámos no carrinho e fomos. Foi um passeio muito curto perto de casa, mas que deu para nós (pais) apanharmos sol e ver a luz do dia. O Gustavo adorou a trepidação e dormiu o tempo todo.
Nessa mesma semana demos mais um passeio nas redondezas - desta vez no sling (ieii!) e fomos à farmácia pesá-lo. Continuava a crescer dentro dos parâmetros normais. O meu sofrimento inicial estava a valer a pena.
Ainda nessa semana, na véspera de fazer duas semanas de vida, fomos fazer uma sessão de fotos profissional com a Sofia da Lovetopraphy. Ainda não vimos o resultado final mas tenho certeza que vou adorar. Seguimos as recomendações da Sofia e a sessão correu super bem, com o nosso filhote a colaborar muito (ou seja, a dormir quase todo o tempo). Para quem goste de fotografia e tenha oportunidade, recomendo mesmo muito fazerem uma sessão de fotos de recém nascido (recomendam fazer até aos 15 dias de vida, porque é quando são menos agitados e mais fáceis de "manusear" enquanto dormem).


Por essa altura o Gustavo chegava a dormir 5 horas seguidas de noite, e nós víamo-nos confrontados com o dilema de acordá-lo ou não para comer (nós tentámos alargar o intervalo gradualmente até sentirmos que ele podia dormir a noite toda se quisesse, porque ele era demasiado sôfrego a mamar quando ficava muito tempo sem comer e depois engasgava-se com frequência...mas foi quando achámos que já podíamos deixá-lo dormir à vontade que ele decidiu passar a fazer intervalos de 3h/3h30m...só para mostrar quem é que manda ;)..
Uma das maiores dificuldades de ser mãe (e pai) de um recém nascido é, sem dúvida, o sono. Mas eu faço mesmo questão de manter os "mínimos olímpicos" e para tal - pelo menos enquanto o senhor namorado também está por casa - o que tenho feito é ir muitas vezes para a cama a partir das 22h, enquanto o pai fica a adormecer o bebé na sala, ou durmo mais um sono depois da "maminha das 7h/8h da manhã", enquanto o pai leva o bebé também já para a sala. No meio disto, e porque eu desperto por completo durante a noite para dar de mamar, nessa altura não me faz sentido dividir tarefas e já que tenho que ser eu a amamentar, trato também das fraldas e de adormecê-lo, deixando o pai dormir o seu sono de beleza (é isso ou passarmos os dois o dia mal dispostos de sono, e alternando desta forma tem resultado bem). Felizmente durante a noite raramente há episódios de cólicas, pelo que eu só grito por socorro do pai mesmo se a criança der muita luta para adormecer (por ele e por mim, que acho que não lhe faz bem nenhum aturar uma mãe nervosa).

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Diário de uma mãe de primeira viagem #3 - Os primeiros dias em casa

[Aviso prévio à navegação: como podem imaginar, tendo um recém nascido em casa tenho vivido praticamente em exclusivo para ele, pelo que será muito provavelmente o meu único assunto por aqui nas próximas semanas. Para além disso, como o blogue é uma espécie de diário, faço muita questão de descrever esta jornada por aqui, para lê-la e recordá-la no futuro. 
A quem este tema não interessar, é voltar daqui a umas semanas, que o assunto bebé deixará de ter exclusividade por aqui. Para já é o que temos ;) ].



Chegámos a casa na tarde de segunda-feira, dois dias depois do nascimento do Gustavo. Ao final do dia chegou a minha mãe para passar uns dias connosco (desvantagens de ter a família a viver longe...os avós tiveram que esperar uns dias para conhecer o neto tão desejado). Durante o tempo que a (santa da) minha mãe esteve connosco, não mexemos uma palha em termos de tarefas domésticas. Cozinhou para nós, deixou-nos a casa num brinco, e ainda ficou por duas vezes com o Gu para nós sairmos. Sim, o meu filho tinha 4 dias de vida e eu consegui separar-me dele (foi só uma hora, na verdade), embora tenha sido só para ir ao supermercado mesmo ao lado de casa e estivesse sempre atenta ao telemóvel para o caso de ele ter um ataque inesperado de fome. Daí a 3 dias voltámos a sair só os dois, desta vez para ir ao centro comercial comprar umas coisas que me faziam mesmo falta. E mais uma vez deixei o meu filho bem alimentadinho e fui descansada da vida, porque a minha mãe estava com ele. Sei que nem todas as recém mães conseguem este "desprendimento" de se separar do filho - por menos tempo que seja - e eu sempre achei que se confiasse plenamente na pessoa que ficasse a cuidar dele conseguiria (na verdade, confio desta forma praticamente só no pai da criança e na minha mãe), e a verdade é que consegui sem ficar minimamente angustiada.
Mas passando à atividade dentro de casa. No mesmo dia em que saí da maternidade tive a famosa subida (ou descida) do leite e isso, aliado a uma má pega do meu filhote aqui no seu sustento resultaram nuns dias mesmo muito difíceis. Sentia-me a ficar doente, tinha muitas dores (e calores e fraqueza) e mesmo seguindo as técnicas que me tinham ensinado a coisa não foi nada nada fácil. Ateéque dois dias depois tive uma consulta de amamentação nos Lusíadas - custa 25€ e não tem acordo com nenhum seguro de saúde (tive com a enfermeira Sara Póvoa que super recomendo, apetecia-me trazê-la para casa e enchê-la de beijinhos). Para além de me ter ensinado técnicas e posições para melhorar a pega do bebé, disse-me que eu estava à beira de ter uma inflamação e mandou-me tomar brufen. A partir desse dia as coisas melhoraram um pouco, e no final da semana começaram a ficar bastante melhores.
Vou ser muito honesta (e dizer algo que provavelmente muitas sentem mas não dizem): o sofrimento físico em que me encontrava naqueles dias, aliado à privação do sono (o Gu mamava e estava a ganhar peso, mas levava eternidades no processo porque ainda não estava a pegar bem) não me permitiram desfrutar da parte boa da maternidade naqueles dias. No dia em que cheguei ao hospital para o teste do pezinho (e em que depois me apareceu aquela enfermeira santa à frente), enquanto esperava pela nossa vez, corriam-me lágrimas pelo rosto. A enfermeira, que nunca me tinha visto mais gorda, olhou para mim e comentou "Está com um ar tão cansado". Quando lhe agradeci muito no final da consulta ela agarrou-me e deu-me um abraço. Uma profissional 10 estrelas, mesmo.
Foi por volta da altura em que o Gu fez uma semana de vida que a amamentação começou a estabilizar e, com isso, as nossas noites melhoraram (passámos a conseguir dormir entre 5 a 7 horas por noite, apesar de com várias interrupções pelo meio), o meu humor também, e aí sim consegui começar a desfrutar mais do meu bebé.