quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Diário de uma mãe de primeira viagem #2 - Os dias na maternidade

Esqueci-me de terminar o último post com uma informação que sempre achei que não era muito relevante de se partilhar com o mundo, mas que toda a gente o faz, pelo que fica também aqui o registo: o Gustavo nasceu com 3,105 kg (e recuperou este peso no espaço de 5 dias só com leite materno) e 49 cm. E tudo o que era (e assim se mantém) roupa de um mês lhe ficava a nadar no corpinho (e até alguma de 0 meses).
A nossa escolha por um hospital privado em detrimento de um público deveu-se a dois principais motivos (para além de este ter acordo com o nosso subsistema de saúde, obviamente): algum receio em não conseguir vagas para consultas, e até para o parto, e podermos ficar os dois a dormir na maternidade, num quarto privado só para nós. Escolhemos os Lusíadas.
Ao início da manhã de sábado, já estávamos os três no naquele que seria o nosso quarto até ao início da tarde de segunda-feira.
Como a nossa família próxima é de longe, não recebemos visitas naquele dia. E confesso que, fora as (pouquíssimas) pessoas com que tenho um à vontade muito grande, a minha vontade de ver pessoas que não fossem profissionais de saúde era quase nula.
O dia passou-se entre muita fraqueza e alguma dor da mãe, e muitas sonecas da parte do filho (tantas que eu já estava a ficar preocupada...veio muito bem nutrido de dentro de mim, o meu filhote).
A primeira noite a três foi muito parca em sono. Lembro-me de um episódio que me marcou especialmente: tinha acabado de dar maminha ao bebé e, como não conseguia levantar-me sozinha com ele ao colo, chamei o senhor namorado para ser ele a fazê-lo. Ele costuma ter o sono muito leve, mas depois de termos passado a noite da véspera em claro - e porque, ao contrário de mim, ele não foi invadido por um exército de hormonas que me fez mandar o sono e o cansaço para parte incerta naquelas primeiras horas de vida do nosso filho - apagou por completo e não me respondia por nada. Juro que dei por mim a pensar "E se eu estou para aqui a rogar-lhe pragas e o homem teve um enfarte e está-me para ali morto e eu vou ficar sozinha no mundo com um recém nascido nos braços?". Ora o homem não respondia, opção n.º 2 era chamar ajuda: pois o comando para tal estava em cima de um móvel onde eu não chegava com a criança nos braços. Foi um momento bonito...até que o pai da criança se dignou a "renascer dos mortos" e lá ma resgatou dos braços.



No dia seguinte, quando chegou uma enfermeira para dar o primeiro banho ao nosso filho, eu percebi - de forma ligeiramente assustadora - que tinha mesmo sido invadida por um bando de hormonas pós-parto. A enfermeira despiu o Gustavo, ele começou a chorar e eu...desatei a chorar com pena do meu pobre filho (quão assustadora foi esta minha reação? racionalmente tive sempre noção disso mas...vão lá dizer isso às hormonas, vão...).
No domingo tivemos a visita da família do pai e de uma amiga querida. E sabes que é uma amiga daquelas (não que eu já não soubesse) quando ela não só traz prendas para o teu bebé, mas também traz um miminho para ti. 
No dia seguinte, segunda feira, tratámos logo de registar  Gustavo e fazer o pedido para a emissão do cartão de cidadão: é mesmo muito prático. Têm um balcão no hospital, o senhor namorado foi lá fazer o pedido e vieram ao quarto fotografar o Gustavo para o cartão de cidadão (a conservadora era tão simpática que nos tratou a mim e ao senhor namorado como se tivessemos um ligeiro atraso mental...isso ou a idade do nosso filho. adoro pessoas que estupidificam os pais de bebés). Fui vista pela minha obstetra e tive "ordem de soltura". Os pagamentos e agendamentos de consultas futuras foram, mais uma vez, feitos todos no nosso quarto, por profissionais que lá foram, e eu achei isso espetacular. 
O que não foi tão espetacular foi a pouca ajuda que tive ao longo da minha estadia na maternidade. Admito que não sou pessoa de me queixar nem de pedir grande ajuda, mas acho também que quando se é mãe (e pai) de primeira viagem, nas primeiras horas nem nós sabemos que tipo de ajuda precisamos (mas oh se precisamos, principalmente se optarmos por amamentar). Eu ia fazendo algumas perguntas mas ninguém se dignou a "perder" algum tempo comigo e ensinar pegas ou dar conselhos para a coisa correr bem. Apenas na segunda feira uma enfermeira (a primeira) espetacular (que pena que nem me lembro do nome dela) chegou ao nosso quarto e deu todas as dicas sobre mudança de fralda, banho e ainda me fez uma massagem no peito (já estava bem a precisar e lá está, não sabia disso porque...sou mãe de primeira viagem e apesar de ter estudado muita teoria, a prática muitas vezes é completamente diferente). Para além disso, de cada vez que carregávamos no comando a pedir ajuda, demoravam uma vida a chegar ao quarto. Se a criança se tivesse engasgado a sério nos meus braços, ou tivesse acontecido algo mais urgente, estávamos por nossa conta.
A única vantagem disto? Estávamos desertos por vir para casa. Se a única vantagem de estar na maternidade era ter algum apoio, assim ficava mais fácil vir embora. E assim foi: no início da tarde de segunda, dois dias depois do nascimento do nosso filhote, chegávamos a casa para começar toda uma nova vida a três.

domingo, 22 de setembro de 2019

Diário de uma mãe de primeira viagem #1 - Nasceu o meu Gustavo

Para quem não me segue no Instagram e ainda não sabia: pois é, para acabar em beleza uma gravidez que correu às mil maravilhas, o meu filhote decidiu chegar uns dias antes de completarmos 40 semanas, para poupar a sua mãe à ansiedade dos últimos dias.
Escrevi o último relato da gravidez na terça feira antes de ele nascer. A chegada às 39 semanas, na quinta-feira, veio acompanhada de um nervoso miudinho. Andava a maior parte do dia em casa entre tarefas domésticas e descanso, saía às horas de menos calor para uma caminhada leve e pouco mais. Já tinha receio de conduzir ou estar sozinha fora de casa, não fossem rebentar-me as águas.
Na sexta-feira, e porque já estava farta de estar sozinha em casa, ainda fui ao ginásio com o senhor namorado ao final do dia. Fui caminhar para a passadeira e fazer uns alongamentos. Mal sabia eu que dali a meio dia já teria o meu filho nos braços.
Chegámos  a casa do ginásio ao início da noite. Não nos apeteceu cozinhar. Comemos cereais. Pensei que mais valia adiantar-me e pintar o cabelo, não fosse a criança chegar entretanto e não convinha deixar uma tarefa dessas para fazer com um recém nascido. Assim fiz.
Eram 23h30 quando me fui deitar. O senhor namorado chegou à cama às 00h30. Dali a 15 minutos - às 00h45 - eu acordei com uma contração. Fui à casa de banho e em menos de 15 minutos senti outra. Fui sentido contrações, algumas mais fortes que outras, com intervalos curtos, bem mais curtos do que aqueles que eu imaginava que aconteceria de acordo com a teoria do curso de preparação para o parto (em que falavam em contrações espaçadas por horas de distância ao início). Cheguei a senti-las com 5 minutos de intervalo (que é quando recomendam dirigirmo-nos à maternidade).  Mandei o homem preparar a mochila dele (já o tinha avisado mil vezes para não deixar para o dia D mas guess what?, foi mesmo naquele momento que ele a fez) e 1h30m depois da primeira contração, estávamos a sair de casa. Chegámos à maternidade eram quase 3h e dirigimo-nos às urgências. As contrações continuavam pouco espaçadas e já dolorosas. Puseram-me a fazer CTG durante uma meia hora, finda a qual confirmaram que eu estava em trabalho de parto e já não ia sair dali. Ligaram à minha médica e levaram-me para a sala de partos (mais uma vez, estudei toda uma teoria de posições e duches quentes e afins para fazer durante as horas antes de ir para a sala de parto e - esquece lá isso tudo que vamos já para a sala de partos...tanto melhor).



Perguntaram-me se queria epidural, ao que eu respondi "Eu querer quero, mas tenho uma tatuagem nas costas, não sei se poderão fazê-lo" (perguntei tantas vezes a profissionais diferentes e nunca nenhum me deu certeza se poderia ou não). Chamaram as anestesistas que logo me disseram que tinham espaço de sobra para aplicar a epidural sem fazê-lo na tatuagem. Que alívio que foi ouvir aquilo. Pois mal sabia eu que o meu problema seria outro. Ao que consta eu tenho as vértebras muito encaixadinhas umas nas outras, sobrando muito pouco espaço para enfiar uma agulha. Isso aliado à minha pouca flexibilidade para me inclinar e facilitar o trabalho das senhoras (quem diria, toda uma preparação física e fui lixada por não ter flexibilidade! oh vida!) fez com que fizessem inúmeras tentativas, durante 1 hora (durante a qual as contrações não paravam e eram cada vez mais dolorosas). Ao final desse tempo disseram-me que achavam que tinham, finalmente, conseguido. Pois que três contrações depois estava tudo igual. Eu comecei a tentar mentalizar-me que ia ter que sofrer até ao fim, quando elas decidiram chamar outro colega para tentar mais uma vez (ao que parece eu fui mesmo caso de estudo. a pobre médica estava com um ar quase tão desesperado quanto eu). Confesso que por aquela altura já não acreditava que alguém fosse conseguir tirar-me as dores, mas aquele santo milagreiro conseguiu...em menos de 5 minutos. Depois de a outra me ter picado vezes sem fim durante 1 hora. Como que por milagre, as dores desapareceram por completo. Fiquei tão incrédula, a sentir-me quase no céu depois daquelas horas em sofrimento (nunca foi nada de insuportável, mas era já muito doloroso). 
Entre o processo de aplica-não aplica epidural rebentou-se-me a bolsa. A minha médica observou-me  entre epidurais e disse-me que eu estava a dilatar muito bem. Por volta das 6h tinha a dilatação completa e começou a mandar-me fazer força quando sentisse contrações. Mas...quais contrações? Com a epidural eu nem sabia quando é que estava a tê-las.
Lá fui dando o meu melhor e por volta das 7h e pouco entraram os profissionais todos na sala de parto (obstetra, anestesista, pediatra e sei lá eu mais quem) e às 7h57m de sábado, dia 14 de setembro de 2019, ouvimos o choro do nosso bebé. Do nosso bebé saudável e perfeitinho que me foi colocado no peito ainda nuzinho. Que emoção! 
Apercebi-me, quando olhei para a cabecinha dele, que tinham usado ventosa (mas dali a 1 hora ou pouco mais já não se via nada). Dali a nada levaram-no (acompanhado pelo pai) para fazer uma catrefada de avaliações e voltaram a pô-lo em cima de mim, já coberto por uma mantinha e com um gorro. Não vou mentir: o facto de a médica continuar a "chafurdar-me" e a finalizar o trabalho de parto (vou-vos poupar os pormenores) não me permitiu desfrutar a 100% daquele momento enquanto ela não acabou. Até que finalmente éramos só nós três, e aí sim... ficou tudo perfeito. O nosso coração estava preenchido, a nossa família estava completa, com o nosso Gustavo ali no meio de nós.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Diário de uma gravidez #17 - 38 semanas







































Fotografia tirada no fim-de-semana passado (só me apercebi tarde demais que a lente da câmara estava suja pelo que é este o estado - miserável - da última recordação que terei na praia com o meu filhote ainda cá dentro)

Como contei no último post, a chegada às 37 semanas veio acompanhada de alguma ansiedade. Ansiedade essa que, estranhamente ou não, tem diminuido entretanto (não sei se por não ter voltado a sentir contrações com dor desde aqueles dois episódios isolados).
Se, por um lado, nesta fase todos os planos são feitos a curto prazo e sempre sob a condição de o Gustavo nos deixar, por outro parece que ainda não caí verdadeiramente em mim que qualquer dia pode mesmo ser o último dia em que não vamos ter o nosso filho cá fora connosco e que depois disso...a nossa vida nunca mais será a mesma.
Tive consulta ontem e, contrariamente ao que esperava ouvir, a médica disse-me que pela posição do bebé e pelo estado do meu útero, duvida que ele aguente cá dentro até às 40 semanas. Ora, daqui a dois dias completamos 39 semanas e eu sempre disse que se pudesse escolher seria precisamente por esta altura que o meu filhote viria cá para fora. Quem sabe ele não decide mesmo fazer-me a vontade? [Que miúfa, senhores!]
A nível físico, e apesar dos desconfortos inevitáveis desta fase, continuo a sentir-me muito (e cada vez mais) grata. Tenho à volta de 9kg a mais do que tinha quando engravidei (se a coisa não descambar entretanto, terei cumprido o intervalo de 9 a 12kg de que tinha falado a médica), continuo sem inchar (era dos meus maiores receios) e ainda vou conseguindo manter-me ativa (faço algumas caminhadas, alongamentos, e alguns exercícios muito leves e adaptados à minha condição) apesar de precisar de descansar mais (e fugir a sete pés do calor. esse sim, arrasa-me por completo). Custa-me um pouco virar-me na cama mas diria que tenho dormido em média umas 7 a 8 horas por dia, o que nesta altura do campeonato, é maravilhoso. 
A dois dias de completar as 39 semanas de gravidez, quem sabe se este terá sido o último capítulo deste diário cá pelo blogue? Cheira-me que ainda cá volto para um último relato (lá está, continuo sem ter efetivamente caído em mim) mas se  for mesmo o último, cá voltarei para vos dar novidades e dar início a um novo diário por aqui.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Diário de uma gravidez #16 - 37 semanas


37 semanas: aquele marco temporal que dita o momento a partir do qual o nosso bebé já pode nascer "à vontade" porque, à partida, já está completamente formado e é considerado bebé de termo.
Ao longo da gravidez convenci-me que este meu filho me vai fazer esperar até depois das 40 semanas para vir cá para fora. E a minha médica corroborou que uma gravidez como a minha, sendo a primeira, tem tudo para chegar efetivamente às 40 semanas (ou lá muito perto). 
Mas tenho que confessar que desde o dia em que atingi as 37 semanas (5a feira passada) a tranquilidade do "ainda falta" deu lugar a uma ligeira ansiedade de pensar que pode ser a qualquer momento.
Fiz o meu primeiro CTG na 4a feira passada (para quem não sabe é um procedimento que se faz a partir das últimas semanas de gravidez - ou mais cedo, nas gravidezes com complicações - que visa avaliar o bem estar fetal e as contrações). Na altura, a enfermeira disse-me que o mais normal era eu ainda não ter sentido contrações até ali. Pois que na noite de 5a para 6a (acho que) senti a primeira. Acordei a meio da noite com uma dor muito semelhante às dores menstruais (a um nível de 3 numa escala de 0 a 10), mas apenas no lado esquerdo, e que durou uns minutos. Achei que as contrações teriam uma localização e duração diferente, fiquei ligeiramente assustada sem saber bem se deveria fazer alguma coisa, mas a dor lá passou e eu voltei a adormecer. Duas noites depois voltei a sentir uma dorzita do género. 
E apesar de saber que há quem comece a ter estes sinais muito antes (semanas) de chegar o momento do parto, deu-se ali um clique de que pode mesmo acontecer a qualquer momento. E com o clique veio o medo, o nervoso miudinho.
Neste momento vivo uma bipolaridade em que num minuto estou a comentar que este filho não pára quieto (soluços principalmente, é uma festarola) ou me deixa a barriga com os formatos mais estranhos e desconfortáveis, e no seguinte estou a pensar se estará tudo bem porque ele não se mexeu nos últimos minutos. Num minuto estou a tentar levantar-me do sofá ou da cama mais desajeitada que um elefante e a dizer mal da minha vida, no seguinte estou a pensar em como é bom ter o meu filho aqui dentro de mim, protegido do mundo. Num minuto estou a olhar para o guarda roupa e a queixar-me que já não aguento mais vestir sempre a mesma roupa, no outro fico nostálgica de pensar que ainda vou ter saudades desta barriga.
Temos data prevista para o parto no dia 19 de setembro, mas se eu pudesse escolher o meu Gustavo chegaria na semana anterior para poupar a sua mãe à ansiedade dos últimos dias (ou até de uma indução). A ver vamos se a vontade dele coincide com a minha...