Ao longo dos vários dias de viagem pelo Peru, e de cada vez que eu me maravilhava com alguma paisagem e pensava que a cada dia que passava a viagem ficava melhor (literalmente, foi sempre a melhorar, dia após dia), dava comigo a pensar "E ainda não vimos o Machu Picchu!".
Na véspera deste dia, estava de tal modo entusiasmada que tive alguma dificuldade em adormecer (ainda por cima iam buscar-nos ao hotel de madrugada, às 4h45). Vi as previsões meteorológicas (como em todos os outros dias) e deparei-me com a informação de que teríamos um belo dia de sol, com algumas nuvens. Agarrei nas minhas adoradas gazelle às bolinhas e lá escolhi uma roupa confortável mas que ficasse bonita naquelas que seriam muito provavelmente das fotografias mais bonitas que ia tirar na vida. Mas, pelo sim pelo não, pus o quispo na mala. Quispo esse que não cheguei a despir.
O Machu Picchu fica longe, mas longe! Em Lisboa, estamos a 15 horas (3 voos) de avião (até Cusco), duas horas (e pouco) de autocarro (até Ollantaytambo), uma hora (e pouco) de comboio, e mais uns 20 minutos de autocarro de lá. É o quanto se tem que viajar para chegar ao Machu Picchu! E retirando os voos, que já tínhamos feito antes (voámos até Arequipa e de lá até Cusco fomos de autocarro), tivemos que fazer tudo o resto (ida e volta) naquele dia. Na primeira viagem de autocarro começou a chover. Na viagem de comboio (que é suposto ser muito gira) continuou a chover. Na viagem de autocarro por aquela subida algo assustadora, de terra e cheia de precipícios, até ao Machu Picchu, continuou a chover. E quando lá chegámos, continuava a chover.
Eu com as minhas gazelle às bolinhas, sem guarda-chuva nem um impermeável, apenas com um quispo supostamente impermeável (que -comprovei naquele dia - deixa de ser impermeável depois de uma hora à chuva).
Cá está o comboio que nos levou de Ollamtaytambo até ao povoado do Machu Picchu.
Tínhamos três horas para estar no complexo arqueológico do Machu Picchu, com visita guiada. O nosso guia ignorou completamente a chuva e lá nos levou, durante três horas, fazendo as suas explicações. Quando saímos do autocarro ele levou-nos àquele que é o lugar onde são tiradas as belas das fotos cliché. E eu, quando lá cheguei, só queria chorar. Mas nada de figurativo...apetecia-me mesmo desatar a chorar, tamanha era a minha frustração.
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Isto sou eu, quando ainda conseguia agarrar no telemóvel, a tentar fotografar alguma coisa. Dá ou não dá vontade de chorar? Não esteve este nevoeiro cerrado o tempo todo, deu para ver alguma coisa, mas choveu ininterruptamente (e não foi coisa pouca). O maior problema foi que não passou muito tempo até ficarmos completamente ensopados (gazelle fofinhas inclusive, pois claro), sem lugar onde secar a máquina/telemóvel para conseguir tirar fotografias, e muito, muito (muito!) desconfortáveis (arrependi-me tanto de não ter levado uma daquelas capas de plástico horrorosas para proteger da chuva).
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Pormenor muito interessante sobre o Machu Picchu: esta cidade inca, localizada no topo da montanha, a 2400m de altitude, foi deixada a abandono por aquele povo na altura em que os espanhóis chegaram ao Peru, como forma de proteger aquele lugar de ser invadido. E esse plano foi de tal forma bem sucedido que o Machu Picchu ficou "perdido" durante séculos, até que foi redescoberto, por acaso, em 1911, sendo então a única herança inca que permanece nos dias de hoje em toda a sua autenticidade, sem o "toque" dos espanhóis.
Apenas 30% do que se vê hoje em dia fazia parte da cidade original, mas todas as reconstruções estão feitas de forma propositada e suficientemente distinta da original, de forma a que se consiga distinguir com facilidade o que é original do que não o é.
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Não vos vou mentir: aquilo é espetacular (sim, mesmo com chuva), mas eu estive em sofrimento o tempo todo. Era o guia a falar e eu a pensar "Mas quando é que isto acaba?". É isso mesmo: eu, Gelatina Maria da Silva, estava no Machu Picchu...cheia de vontade de ir embora! É que nem nos meus piores pesadelos...mentira, eu tinha pânico de apanhar chuva no Machu Picchu (cheguei a ver fotos de outras pessoas em que não se via, literalmente, um palmo à frente do nariz, e isso sim seria o drama total) mas nunca me ocorreu que fosse passar por aquele desconforto físico horrível como passei (ainda para mais isto aconteceu de manhã e passámos o dia inteiro, até às 20h, com aquela roupa e calçado).
Cá está a minha foto cliché da viagem. A montanha ao fundo? É imaginá-la, que vos faz bem exercitar o cérebro :p.
Só eu sei o que me custou conseguir este carimbo (e ainda consegui molhar metade das folhas do passaporte).