"Jesus Cristo bebia cerveja", de Afonso Cruz. A escrita do Afonso Cruz, sempre muito poética, prende desde a primeira página. Nada é dito de forma simples pelo escritor, até o mais simples dos acontecimentos é sempre contado de forma muito rica (a um ponto que, tenho que confessar, por vezes torna-se algo exagerado). Quanto à história, é muito peculiar, e tem um desfecho que - pelo menos para mim - é bastante imprevisível. De uma forma que não me agradou particularmente (mas não vou desenvolver sob pena de trazer spoilers). De qualquer forma, era uma falha ainda não ter lido nada deste escritor.
A saga da família Walsh foi me dada a conhecer por uma colega há três anos, quando me emprestou o "Melancia", que gostei tanto de ler (falei dele aqui). Depois desse também gostei imenso do "Los Angeles" e também li o "Anybody out there" (que gostei um pouco menos).
A saga "Walsh family" tem 6 livros e cada um deles conta a história, na primeira pessoa, de uma de cinco irmãs irlandesas (o sexto livro é sobre a mãe delas). Acho que nem todos estão traduzidos (já li dois em inglês e dois em português). A escritora, Marian Keyes (irlandesa) e tem uma escrita que eu adoro: leve até quando descreve assuntos pesados (e sim, na maior parte dos livros os assuntos abordados são pesados - no caso deste livro o tema principal é a depressão), mas sempre descritos com um toque de ironia e humor que eu adoro.
Este "The mistery of Mercy Close" não me prendeu logo ao início pela história, mas a partir de metade eu já andava em pulgas para saber o final. E quando lá cheguei fiquei super chateada comigo mesma por não ter desconfiado que a resposta ao grande mistério seria aquela (também vos acontece, ficarem chateados quando não descobrem respostas aparentemente óbvias?).
Para quem queira uma leitura leve e divertida, mesmo que os temas abordados em grande parte dos livros não sejam, de todo, leves, aconselho muito a leitura de Marian Keyes.
Nunca experimentei o amor à primeira vista nem sei se ele existe, mas posso dizer-vos que com este livro experimentei o amor à primeira página. Logo nas primeiras páginas dei por mim a esboçar vários sorrisos com as descrições deliciosas do narrador da história - o Mohammed, um rapaz órfão de 14 anos que é acolhido, conjuntamente com outras crianças na mesma situação, por uma prostituta reformada.
A história é muito triste (para não variar, eu sei) mas tem uma mensagem de amor tão, tão bonita. Cheguei ao final com um aperto no coração, de tão bom que este livro é. É, sem dúvida (a par com o "Viver depois de ti", que tem um registo diferente mas adorei também) uma das melhores coisas que li nos últimos tempos.
[Quanto ao autor do livro, Romain Gary, tem uma história engraçada: foi o único escritor da história a ganhar por duas vezes o prémio Goncourt (prémio literário atribuído em França), que por regra só pode ser atribuído uma vez a um escritor. Acontece que este escritor, depois de ter ganho o prémio pela primeira vez, começou a escrever com o pseudónimo Émile Ajar, sem nunca dar a cara, tendo ganho o prémio pela segunda vez, com este "Uma vida à sua frente". Só se descobriu a identidade de Émile Ajar após a sua morte, tendo-se decidido manter a atribuição do prémio ao autor, não obstante esse facto violar as regras do prémio Goncourt.]