domingo, 29 de março de 2020

Diário de uma mãe de primeira viagem #15 - Balanço de seis meses de amamentação exclusiva

Não me perguntem porquê (que não sei responder) mas amamentar nunca foi um dos cenários associados à maternidade com que eu sonhasse propriamente. Mas sabendo que era a melhor opção para o meu filho, comprometi-me desde o início comigo própria a tentar pelo menos. E assim fiz.
Amamentar deveria ser instintivo: afinal de contas, desde que existe a espécie humana que as mulheres amamentam. Bom… pelo menos comigo não foi assim tanto.
Mas comecemos pelo início. Eu tinha aprendido no curso de preparação para o parto que o ideal seria o bebé mamar logo na primeira hora de vida e que, sendo-lhe dado tempo, fá-lo-ia naturalmente quando pousado no nosso peito. O Gustavo foi posto em cima de mim quando nasceu, mas foi por uns minutos apenas (de seguida levaram-no para os testes de rotina, e depois disso fui para o recobro e enquanto isso ele estava na mesma sala que eu, mas num berço longe de mim). Ninguém, em momento algum, falou comigo sobre a amamentação. Foi apenas quando me estavam a levar para o quarto que uma enfermeira me perguntou se eu ia querer amamentar e, quando eu disse que sim, deitou o meu filho ao meu lado virado para mim (eu estava também de lado). Só isto. Como se fosse óbvio o que eu devia fazer a seguir. O facto é que o Gustavo mamou logo e correu (aparentemente) tudo bem. Mas no início do segundo dia de vida dele já me começou a doer um dos mamilos (conforme dizem todos os profissionais: se a pega do bebé for bem feita, amamentar não deve doer). Os enfermeiros eram todos muito simpáticos e diziam para chamar se precisássemos de ajuda (mas uma pessoa sabe lá que ajuda é que precisa!), mas apenas uma enfermeira, no último dia, olhou para mim com "olhos de ver" e deu-me logo uma massagem no peito, deu-me os parabéns porque eu já tinha leite (e já não apenas colostro) e aconselhou-me a massajar muito para não deixar ficar com o peito demasiado duro. De resto, tive ajuda duma querida funcionária de limpeza, que me ajudou a experimentar uma posição diferente para dar maminha ao Gustavo (e que no dia seguinte fez questão de me ir ver e perguntar como estava a correr).
Os primeiros dez dias foram dolorosos: o peito ficava duro com muita rapidez, as massagens para amenizar a coisa eram muito dolorosas, e a ferida no mamilo não só não melhorou como piorou (e deixei de dar maminha dessa mama, até ter tido uma consulta de amamentação, por volta do 5º dia de vida do Gustavo - tirava leite com bomba dessa mama). Quando fomos fazer o teste do pezinho, por volta do 5º dia, tive uma consulta de amamentação com uma enfermeira querida que me ajudou imenso (ensinou-me uma posição para não me doer o mamilo ferido - e não doeu mesmo! - e aperfeiçoámos a pega do Gustavo). Depois disso, ao 7º dia continuava com dores e foi quando decidi experimentar mamilos de silicone. Usei-os durante uns dias (3 ou 4) e se não tivesse sido isso não sei se teria aguentado. Sei que há profissionais que não aconselham, mas acho mesmo que me salvaram a vida naqueles dias.
Ao final de uns 10 dias começou, finalmente, a correr melhor, e deixei de ter dores (ou pelo menos passaram a ser bem mais ligeiras). Sinceramente, quando ouço relatos de mastites e de mulheres que tiveram dores durante meses sinto-me uma sortuda pela experiência que tive. 
Só que na verdade o meu filhote nunca mamou lá muito bem (apesar de claramente o fazer de forma eficaz, porque não ficou um pequeno leitão do ar que respira), o que fez com que a maior parte da nossa experiência não tenha sido caraterizada por momentos íntimos de tranquilidade entre nós. Tranquilidade é palavra que se aplica pouco à minha experiência de amamentação.  Minto: nos primeiros dois meses, eventualmente três, a coisa era relativamente tranquila (apesar das cólicas), mas depois parece que piorou (e eu não consigo perceber o porquê). Ele era a criança a pôr e tirar a boca n vezes, ele era criança a esbracejar enquanto mamava (muitas vezes a bater-me mesmo), ele era criança às vezes queixosa com cólicas (também) enquanto mamava. Enfim... Havia dias mesmo frustrantes em que me sentia mesmo triste e só pensava "Que bom que estamos quase a deixar a amamentação exclusiva" e "Duvido que vá ter saudades disto". 
Houve ali uns dias, por volta da altura do meu regresso ao trabalho, em que as cólicas não só não melhoraram como ainda ficaram piores (principalmente à noite) e eu ponderei seriamente antecipar a diversificação alimentar, com esperança que com isso as cólicas melhorassem. Mas não havendo evidência de que tal aconteceria, e sabendo que o recomendado pela OMS é a amamentação exclusiva até aos 6 meses, lá continuei firme na minha opção.
A amamentação exclusiva durou até o Gustavo ter 6 meses e 10 dias (como queríamos fazer baby led weaning - falo sobre isso noutro post - esperámos que ele conseguisse sentar-se de forma minimamente segura, e isso só aconteceu por volta dessa altura).
Nunca, durante estes seis meses, e apesar das dificuldades, ponderei desistir de amamentar. A promessa que tinha feito a mim própria de só tentar até ao limite do razoável? Talvez a tenha incumprido em alguns momentos dos primeiros dias. Mas agarrei-me aos n relatos que diziam que o difícil são os primeiros dias e, passada essa fase, passa a correr bem.
Sendo muito honesta, talvez pela experiência que tive, apesar do balanço ser claramente positivo, não adoro amamentar. Faço-o pelo meu filho e porque sei que é o melhor para ele. Se me enche o coração pensar que tenho o melhor alimento do mundo para ele? Sim. Mas vejo a amamentação duma forma muito prática e pouco romântica. Prefiro mil outros cenários de cumplicidade que tenho com o meu filho do que a amamentação. E não há problema nenhum com isso. Se vou ter saudades no dia em que ele deixar de querer maminha? Boa pergunta. Cá estarei para descobrir a resposta ;).

quarta-feira, 11 de março de 2020

Leituras



Factfulness

Avaliação do Goodreads: 4,37/5
Minha avaliação: 5/5

Que livro tão, mas tão interessante! E é tão informativo que arrisco-me  dizer que é daqueles que toda a gente deveria ler. Faz mesmo pensar sobre a visão que temos do mundo (de uma forma bastante otimista, para variar).
O autor, Hans Rosling, é um professor de saúde internacional com uma experiência profissional e de vida riquíssimas, que nos mostra - com base em factos - como o mundo, no geral (em termos educacionais, de distribuição da riqueza, saúde, esperança de vida, etc), está muito melhor do que aquilo que temos tendência a pensar (e que nos mostram diariamente os telejornais). 


O livro que gostaria que os seus pais tivessem lido

Peguei neste "O livro que gostaria que os seus pais tivessem lido" à espera de algo diferente, mais humorístico. Ao início cheguei a arrepender-me de o ter comprado, mas no final da leitura a opinião global é positiva.
A autora é psicoterapeuta, e muito resumidamente aponta a educação que tivemos por parte dos nossos pais como a causa de praticamente todas as nossas "falhas" enquanto pais. Mas faz outra coisa - essa, achei bem mais interessante - que é dar-nos ferramentas para comunicar e entender as necessidades dos nossos filhos numa perspetiva de diálogo e compreensão, tentando evitar aquela postura autoritária do "Fazes assim porque eu sou a mãe/pai e eu é que mando". Claro que este cenário idílico não será sempre possível e haverá crianças mais fáceis de se aplicar estas estratégias que outras, mas é uma abordagem que me parece muito interessante e que vou, definitivamente, (tentar pelo menos) aplicar com o meu filho.



A rapariga do casaco azul

Avaliação do Goodreads: 4,05/5
Minha avaliação: 4/5

"A rapariga do casaco azul" é um young adult que se passa em Amesterdão na época da II Guerra Mundial. É um tema do qual nunca me farto de ler: sobre pessoas que arriscaram a sua vida para ajudar muitas vezes desconhecidos cuja vida foi posta em risco apenas por serem judeus.
Não está no meu top de favoritos sobre o tema, mas foi uma leitura interessante.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Diário de uma mãe de primeira viagem #14 - Balanço da minha "pausa" na licença para um mês de trabalho

[A três dias do regresso a casa]
Depois dos primeiros dias em que senti na pele (e principalmente no cérebro) os efeitos da privação de sono (motivada principalmente por insónias, porque quanto ao restante cenário habitual de 3 a 4 despertares noturnos já me "habituei" de certa forma), começou a correr tudo melhor. Voltei a sentir-me minimamente bem durante o dia, e a conseguir raciocinar decentemente no trabalho. Na verdade, deixei de me sentir muito cansada (como me sentia quase todos os dias em que estava em casa de licença) para sentir-me "só" cansada. E agora que vou voltar para casa e sei que o Gu (que já pesa quase 9kg) ainda precisa de muito colo para adormecer durante o dia... confesso que não fico aos pulos de contente com a ideia do regresso.
Tal como nos primeiros dias, não morri de saudades do meu filho, nem passei os dias a pensar nele. E era muito boa a sensação de chegar a casa cheia de vontade de passar tempo de qualidade com ele, depois de umas horas separados. Não sei qual será a sensação de ir trabalhar e deixar o nosso filhote na creche: para já só sei o que é deixá-lo com o pai. E essa realidade deixou-me (como deixa sempre, independentemente de se vou trabalhar ou fazer outra coisa qualquer) completamente tranquila e descansada. A única coisa que pedia ao pai para fazer todos os dias era informar-me dos sonos e de quando o Gu bebia o biberão. Desde que ele fizesse isso eu não o "chateava" com mais perguntas. Nos primeiros dias confesso que estava sempre a olhar para o telemóvel principalmente à hora do biberão, mas depois até em relação a esse assunto consegui relaxar. Felizmente até hoje o Gustavo nunca rejeitou um biberão (usámos sempre o tetina calma da Medela).
A única parte verdadeiramente chata associada ao trabalho foi mesmo o ter que extrair leite à hora de almoço: para além de ser um tédio, de não ser a atividade mais confortável do mundo e de retirar algum tempo, sentia-me sempre uma espécie de criminosa por estar a fazê-lo com receio de aparecer alguém, apesar de ter sempre quem me ajudasse a assegurar que não apareciam "intrusos" (a casa de banho não era opção por falta de condições).
O balanço deste mês foi claramente positivo. Foi bom sair da "bolha" em que tenho vivido nos últimos meses, voltar a fazer coisas não relacionadas com a maternidade, arranjar-me todos os dias e vestir roupa "decente" (apesar de continuar a não poder vestir os meus ricos vestidos sem botões por causa de ter que tirar leite) e matar saudades de alguns colegas.
Sempre achei, mesmo antes de ter filhos, que não seria pessoa de me sentir 100% realizada a ser "só" mãe. E agora que sou mãe - e passados aqueles tempos iniciais em que só conseguia efetivamente viver em exclusivo para o meu bebé - confirmo isso. Acho que até me tenho "safado" bem neste que é, sem dúvida, o papel mais difícil que já desempenhei na vida, mas faz-me bem sentir-me útil também "noutras frentes". 

quinta-feira, 5 de março de 2020

Leituras

Nunca mais vos tinha atualizado sobre as minhas leituras, mas o motivo não é, de todo, a ausência delas. Se há coisa que tenho feito bem mais do que esperava desde que sou mãe (a única, arrisco-me a dizer) é ler. Por vários motivos: um deles é o facto de agora me proibir terminantemente de ir para a internet no telemóvel quando vou para a cama (porque é coisa que acaba por me despertar e nesta fase da minha vida em que tenho um bebé que acorda, no mínimo, três vezes por noite, não me posso dar ao luxo de desperdiçar oportunidades de dormir) e como tal leio sempre umas páginas antes de adormecer. E porque muitas das vezes em que acabo com a cria a dormir as sestas em cima de mim (é a única forma de fazer sestas longas, sozinho raramente chegam aos 45 minutos) se ele estiver em dias calmos de poucas cólicas consigo arranjar maneira de ler enquanto ele dorme (já que pouco mais consigo fazer com ele em cima de mim). A modos que nos dois primeiros meses do ano consegui despachar seis livros. Nada mau, hã? 
Para o post não ficar gigante, vou falar-vos de 3 deles para já.


Raparigas como nós

Avaliação do Goodreads: 4,42/5
Minha avaliação: 3,5/5

Li este livro por dois motivos: porque é da Helena Magalhães (a criadora do HM Bookgang que eu sigo no Instagram) e porque tem ótimas críticas.
Foi uma leitura muito fluida e a história é cativante mas...é um young adult, que não é dos géneros literários que mais me entusiasma. Para quem seja fã do género, recomendo bastante. Para mim foi uma leitura interessante, não sendo espetacular.


A guerra que em ensinou a viver

Avaliação do Goodreads: 4,41/5
Minha avaliação: 4/5

Este livro é a continuação do "A guerra que salvou a minha vida", de que vos falei aqui e que adorei (é sobre a história de dois irmãos ingleses na época da II Guerra Mundial). Tal como aconteceu no primeiro, li-o num instante. Não gostei tanto como do primeiro, mas vale muito a pena de qualquer forma. É uma história enternecedora e deliciosa sobre amor (não o amor "romântico", mas o familiar...da família de sangue e daqueles que amamos como se fossem).


10 dias para ensinar o seu filho a dormir

Avaliação do Goodreads: 3,22/5
Minha avaliação: 4/5

Este livro não cabe propriamente na categoria de lazer. Cabe mais na de "despespero de uma mãe" :p. Tenho lido imeeenso sobre o assunto, daqui a nada sinto-me eu própria capaz de escrever um livro mas...resultados práticos é que (ainda) não conseguimos grande coisa lá por casa. Mas continuo firme à espera do fim das cólicas do meu filho (sim, faz 6 meses para a semana e ainda tem cólicas) para confirmar (ou não) que elas são um dos grandes entraves aos sonos de qualidade do meu filho. Depois disso prometo que escreverei aqui a nossa experiência desde que tivemos consulta de sono até agora.
Mas passando então ao livro, lê-se num instante (é muito pequeno) e tem informação interessante. 
Quanto à técnica recomendada, não a apliquei (ainda...?). Por dois motivos: porque o livro foca essencialmente no ato de adormecer os bebés com mais de 6 meses (ainda não é o caso do nosso), e para o sono da noite. Os problemas lá por casa são mais as sestas, e o facto de o Gustavo acordar várias vezes durante a noite (mas raramente tem problemas em readormecer durante a noite). Para além do que como fomos a uma consulta, decidimos seguir a estratégia que nos foi recomendada nessa consulta. 
Se os vossos filhos tiverem mais de 6 meses e tiverem problemas especificamente a adormecer de forma minimamente autónoma para o sono da noite e acham que já experimentaram tudo e mais alguma coisa, talvez possam ter interesse em aplicar a estratégia recomendada neste livro.