A minha experiência, à data em que escrevo este post, ainda nem três semanas tem (faz amanhã), mas ao final deste tempo, e em relação ao meu filho (não terão todos o mesmo comportamento, obviamente) e a mim própria, posso dizer o seguinte: os primeiros dias, entre adaptação aos cortes e cozeduras (que resultam às vezes em aperceber-me que o meu filho não vai conseguir comer nada de jeito, não porque não esteja para aí virado, mas porque eu não consegui cozer ou cortar os alimentos da forma mais adequada), e muiiiito reflexo de vómito, são um teste, não só ao nosso coração como à nossa paciência (o BLW requer tempo para deixar o bebé explorar os alimentos ao seu ritmo).
Mas ainda nem uma semana tinha passado e eu já conseguia ver uma evolução clara no meu filho e, com isso, comecei a entusiasmar-me cada vez mais (depois de ter tido vontade de desistir nos primeiros dias, por causa do reflexo de vómito constante).
Não corre bem todos os dias: ou porque é um alimento novo e, como disse antes, apercebo-me que não o cortei ou cozinhei da forma mais apropriada, ou o Gustavo está pouco paciente (é preciso "apanhá-lo" pouco depois da sesta e que não tenha mamado pela última vez há demasiado tempo), ou menos interessado. Faz tudo parte. Os primeiro dias de BLW não têm por objetivo alimentar a criança, mas sim introduzi-la neste mundo novo dos alimentos e suas texturas, formatos, cores e sabores. Comer efetivamente alguma coisa, nos primeiros dias, é um "bónus" (e esse bónus, cá em casa, chegou bem mais cedo do que eu estava à espera).
Segue então o relato dos primeiros dias da nossa experiência.
1º dia: banana
Apesar de ter estudado imenso, o comprimento da banana que lhe demos não era o ideal (uma coisa é a teoria, outra a prática). Ele não conseguia agarrá-la sobrando banana fora da mão, como era suposto. Mas desenrascou-se: deixou a banana no tabuleiro e levou lá a boca. E bem que gostou.
Mood desta mãe depois da primeira experiência: "Isto não é tão fácil e giro como eu achava que ia ser, mas bora lá seguir firmes".
2º dia: courgette e cenoura cozidas ao vapor (cortadas em tiras, com parte da casca) ao "almoço"
O Gustavo não conseguiu mastigar super bem a courgette, mas desenrascou-se a chupá-la (fez isto com vários alimentos, na verdade). Em relação à courgette: voltámos a dá-la duas semanas mais tarde e, apesar de ter corrido melhor, não acho que seja dos vegetais mais fáceis de comer nesta primeira fase (não tem uma textura que se desfaça bem).
A cenoura comeu qualquer coisa, mas eu apercebi-me que tinha cozido demasiado tempo (isto é mesmo um processo de aprendizagem para todos).
Na verdade, os bebés têm mais força (de gengivas, nomeadamente) do que podemos pensar. E como estava demasiado cozida ele também a esmagava demasiado antes de conseguir levá-la à boca (eles próprios também estão ainda a aprender a dosear a força com que agarram nos alimentos). Mas gostou de ambas. E teve um fartote de reflexo de gag (mas reagindo sempre como se estivesse tudo bem. E estava). E eu tive um fartote de mini paragens cardíacas.
Mood desta mãe ao segundo dia: "Deve ser bem mais tranquilo dar sopas e papas. Não sei se isto é para mim.".
3º dia: batata doce assada em tiras ao "almoço"
Continuámos a testar cozeduras e a precisar de aprimorar a técnica. Mais uma vez, a criança aprovou o sabor.
Mood desta mãe: Mantivemos as paragens cardíacas frequentes em cada reflexo de vómito da criança. Criança, esta, que continuava tranquilíssima em relação a isso.
4º dia: brócolos cozidos ao vapor ao "almoço" e banana à tarde
Mood desta mãe: Virei-me para o homem e disse para ficar ele a supervisionar a criança, que eu ainda estava traumatizada com a experiência da véspera (correu tudo bem, atenção).
Apercebi-me que ele tinha comido super bem os brócolos, e que o reflexo de gag já tinha diminuído muito. Ganhei algum ânimo para continuar.
[Sobre alimentos que se desfazem facilmente:
Com a banana, tenho feito sempre o seguinte: primeiro deixo-o agarrar nela e comer por ele (leva logo grandes pedações à boca, sendo que depois mais de metade deles acabam cuspidos para o tabuleiro quando se apercebe que teve mais olhos que barriga :p). Com os pedaços que se vão soltando, ponho na colher "numnum" e dou-lhe a colher para a mão.
Isto vale para a banana e não só: quando o alimento fica muito desfeito e é ligeiramente pastoso, ponho pedacinhos desfeitos na colher "numnum" (falei dela neste post) e dou para a mão dele. Assim ele tem os dois tipos de experiência (e sempre come mais qualquer coisa). Ainda hoje dei uma banana da Madeira nestes termos e o Gustavo, entre os dois "métodos", comeu-a toda. Não sobrou nada.
Faço isto com toda a comida que se desfaz e que é suficientemente pastosa para "colar" na colher (abacate, cenoura, hamburguer de vegetais, panquecas).]
5º dia: Cenoura e batata doce cozidas ao "almoço". Pêra cozida de manhã
Mood desta mãe: "Bora lá que isto depois dos primeiros dias é que dizem que fica giro". Depois de trocar fraldas à cria e perceber que efetivamente começava a comer alguma coisa (sim, ao 5º dia!): "Isto afinal talvez resulte mesmo.".
6º dia: Abóbora e brócolos ao "almoço"
Mood desta mãe (depois da criança agarrar já com mais destreza nos alimentos e comer efetivamente mais em vez de só tentar): "Que orgulho neste filho! Isto é tão giro! Adoro! Daqui a nada está a comer tão bem como nós!".
7º: Banana de manhã. Cenoura cozida ao "almoço"
Continuámos a notar evolução (em mim, que já cozo melhor a cenoura - mas não é dos legumes que acho mais fáceis acertar na cozedura adequada -, e nele, que já a agarra com menos força e come mais quantidade).
8º: Batata doce assada e nabo ao "almoço". Panqueca de aveia e maçã à tarde
Pela primeira vez o Gustavo provou alguma coisa e não mostrou grande interesse: nabo cozido (devo dizer que o percebo, não é a verdura mais saborosa do mundo). Já lhe tínhamos posto no tabuleiro uns dias antes e não lhe tinha tocado. Desta vez insisti em pôr-lhe o nabo na mão: levou-o à boca, provou, fez um ar de pouco entusiasmo, largou-o e não lhe voltou a tocar.
De tarde fiz, pela primeira vez, uma panqueca (com aveia, maçã e água). A consistência ficou demasiado "elástica", pelo que tive receio que se lhe colasse ao céu da boca ou à garganta. Dei bocadinhos pequeninos na colher numnum.
9º: Brócolos ao "almoço". Abacaxi, e panqueca de aveia, maçã e linhaça ao "lanche"
Não sei se pelo formato, mas os brócolos são dos vegetais que, neste momento, o Gustavo consegue comer melhor.
A panqueca desfez-se com demasiada facilidade, pelo que dei pedacinhos na colher.
Quanto ao abacaxi, cortei uma tira e deixei parte da casca. Fartou-se de chupar e gostou, mas em determinada altura assustou-se (não percebemos bem porquê, se se engasgou) e começou a chorar (nunca tinha acontecido até então, e não voltou a acontecer entretanto com nenhum alimento). Parámos por ali e foi à maminha.
10º dia: Banana de manhã. Abacate ao almoço
O abacate, estando no ponto certo, é bastante fácil de eles comerem (deixando parte da casca, senão escorrega tudo). Não só gostou como comeu bastante (em comparação com outros alimentos).
11º dia: Hambúrguer de grão e cenoura ao almoço. Panqueca de aveia, ovo e banana ao lanche
O hambúrguer desfez-se todo (ainda não foi desta que acertei à primeira com a consistência de um alimento).
À terceira vez, acertei na consistência da panqueca (mais durinha), e o Gustavo conseguiu comer: foi das refeições em que comeu mais (a consistência da fralda do dia seguinte comprovou-o).
[Sobre panquecas:
A partir deste dia, continuei a dar panquecas ao lanche, variando o tipo de farinha (aveia, centeio, espelta) e a fruta que adiciono (pêra, maçã, banana). Às vezes junto um pouco de linhaça, e normalmente junto um ovo. Faço umas 3 panquecas de cada vez, corto-as em tiras (duas ou três, dependendo do tamanho da panqueca), e têm dado para duas refeições normalmente.
Ao final de duas semanas, o Gustavo já chegou a conseguir comer uma tira inteira de panqueca sem que ela se desfizesse. Quando isso não acontece, ponho pedacinhos desfeitos na colher e dou-lha para a mão, e ele também come bem.
Ainda não experimentei fazer bolos e bolachas. E confesso que tenho algum receio de dar pão e massa nesta fase, mas lá chegaremos.
Ainda sobre panquecas: como tenho dado quase todos os dias, tenho notado uma evolução grande no manuseamento e na quantidade que ele come. Depois de uma panqueca e meia manga na mesma refeição, ao fim de duas semanas de BLW, pela primeira vez ofereci maminha depois dessa refeição e o Gustavo quase não mamou (o que quer dizer que ficou bastante satisfeito com a refeição).
Da nossa experiência (atualizada depois do último post), estes foram os alimentos que resultaram melhor nos primeiros dias):
- Brócolos (em raminhos)
- Abacate (em meias luas, com parte da casca)
- Manga (cortada como o abacate) [O Gustavo comeu quase meia manga - praticamente sem desperdício - logo na na primeira vez que provou).
- Kiwi (idem) [O Gustavo comeu meio kiwi - praticamente sem desperdício - na primeira vez que provou).
As experiências que não correram tão bem:
- Cogumelos (demos Portobello grande, em tiras, mas a textura não facilitou)
- Courgette (não tem uma textura que se desfaça com facilidade na boca)
Até podemos achar que eles comem pouco nestes primeiros dias. E na verdade, durante os primeiros dias, quando ofereci maminha a seguir a todas as refeições, não notei que ele mamasse menos que o habitual. Mas posso garantir-vos (e perdoem-me os mais sensíveis - vou falar de cocós) que nem tinha passado uma semana quando começámos a perceber pela fralda que não era assim tão pouca a quantidade de comida que ele estava a conseguir comer. E ao final de duas semanas posso dizer que o Gustavo, na maior parte das vezes, já não mama tanta quantidade depois de fazer as refeições em BLW (que o digam as minhas maminhas, já que eu voltei ao estado "Pamela Anderson" e a ponderar se não vou ter que recorrer à bomba extratora - nunca me ocorreu que pudesse acontecer tal coisa nesta altura do campeonato, confesso).
Com quase três semanas de experiência, e apesar de continuar a sentir-me um pouco perdida pelo facto de não termos tido consulta com a pediatra nem irmos ter em breve (mas isso teria acontecido na mesma se tivéssemos optado pela abordagem mais tradicional, acho eu), o balanço é mesmo muito positivo, e não me arrependo nem um pouco da opção que tomámos.