No fim-de-semana passado vi um documentário que já estava na minha lista há algum tempo: chama-se The true cost e mostra o lado negro da indústria da moda (principalmente da chamada fast fashion): o impacto ambiental e as condições de trabalho existentes nas fábricas de países subdesenvolvidos (como o Cambodja e o Bangladesh) que produzem para algumas das maiores empresas deste ramo de negócio.
O documentário não dá grandes novidades que a maior parte das pessoas do mundo ocidental não saiba, mas coloca o dedo na ferida de forma bastante incomodativa. Uma pessoa senta-se no seu belo sofá num fim-de-semana de descanso de um trabalho com condições dignas, vestida com as suas roupas confortáveis (muitas delas feitas naqueles países à custa do suor e - literalmente - do sangue daquelas pessoas) enquanto assiste a uma realidade diametralmente oposta à sua de pessoas que a única coisa que fizeram para tal foi nascer no país errado, e dá por si cobardemente a ansiar que aquilo acabe para voltar à sua vida confortável.
O documentário mostra as condições degradantes a que estão sujeitos os trabalhadores das fábricas que produzem para as grandes cadeias de fast fashion (e relembra a tragédia que aconteceu numa fábrica no Bangladesh, em 2013, que ruiu e matou mais de 1000 trabalhadores), os salários (muitos de 2USD/dia), o impacto no ambiente deste tipo de produção (as águas saem das fábricas cheias de químicos e contaminam a água potável nestes países, gerando inúmeras doenças numa população que mal tem dinheiro para comer, quanto mais para ir ao médico).
E enquanto isto as grandes cadeias de fast fashion lavam as suas mãos e apregoam aos sete ventos que os seus trabalhadores têm condições dignas de trabalho. Pois, porque o que elas fazem é subcontratar a produção aos fabricantes destes países subdesenvolvidos a troco de valores irrisórios (valores esses que se vão refletir obviamente nas condições de trabalho e salário dos trabalhadores das fábricas). Estão a contratar o produto final às fábricas, não têm portanto nada a ver com tudo o que acontece até esse produto lhes chegar às mãos. Nada hipócrita, portanto.
Eu não acho que a solução esteja em nós, consumidores do primeiro mundo, boicotarmos por completo a compra de roupa produzida nestes países. Aliás, acho que isso pode até ser perigoso, porque levaria ao desemprego em massa dessas pessoas que, se vivem mal com as condições que este tipo de emprego lhes proporciona, não ficarão muito melhor no desemprego.
Acho que o pouco que podemos fazer (e refiro-me às pessoas da classe média clientes de lojas de fast fashion) é tentar reduzir a quantidade de roupa que compramos sem ser verdadeiramente necessária (diminuindo o impacto ambiental causado pela indústria da moda) e evitar ao máximo as pechinchas a preços absurdos. Porque uma t-shirt, para chegar até nós depois de ser produzida do outro lado do mundo com recursos naturais, trabalho humano e transporte e custar 5€, é porque se poupou em algum lado. E esse lado, o único onde ainda se vai conseguindo reduzir os custos, é o do costume, o lado mais fraco: o das pessoas que são exploradas diariamente para produzir estas peças em massa.
Enquanto cliente, se me fosse dada a opção de pagar mais um pouco por essas peças mais baratas com a contrapartida desse extra servir para melhorar as condições de trabalho nas fábricas do terceiro mundo, aceitaria de bom grado. E acredito que mais pessoas pensem como eu...
Mas, na impossibilidade de fazer isso, resta-me ir lidando com o sabor amargo desta realidade e fazendo o melhor que posso para consumir cada vez menos e de forma mais ponderada.
O documentário mostra as condições degradantes a que estão sujeitos os trabalhadores das fábricas que produzem para as grandes cadeias de fast fashion (e relembra a tragédia que aconteceu numa fábrica no Bangladesh, em 2013, que ruiu e matou mais de 1000 trabalhadores), os salários (muitos de 2USD/dia), o impacto no ambiente deste tipo de produção (as águas saem das fábricas cheias de químicos e contaminam a água potável nestes países, gerando inúmeras doenças numa população que mal tem dinheiro para comer, quanto mais para ir ao médico).
E enquanto isto as grandes cadeias de fast fashion lavam as suas mãos e apregoam aos sete ventos que os seus trabalhadores têm condições dignas de trabalho. Pois, porque o que elas fazem é subcontratar a produção aos fabricantes destes países subdesenvolvidos a troco de valores irrisórios (valores esses que se vão refletir obviamente nas condições de trabalho e salário dos trabalhadores das fábricas). Estão a contratar o produto final às fábricas, não têm portanto nada a ver com tudo o que acontece até esse produto lhes chegar às mãos. Nada hipócrita, portanto.
Eu não acho que a solução esteja em nós, consumidores do primeiro mundo, boicotarmos por completo a compra de roupa produzida nestes países. Aliás, acho que isso pode até ser perigoso, porque levaria ao desemprego em massa dessas pessoas que, se vivem mal com as condições que este tipo de emprego lhes proporciona, não ficarão muito melhor no desemprego.
Acho que o pouco que podemos fazer (e refiro-me às pessoas da classe média clientes de lojas de fast fashion) é tentar reduzir a quantidade de roupa que compramos sem ser verdadeiramente necessária (diminuindo o impacto ambiental causado pela indústria da moda) e evitar ao máximo as pechinchas a preços absurdos. Porque uma t-shirt, para chegar até nós depois de ser produzida do outro lado do mundo com recursos naturais, trabalho humano e transporte e custar 5€, é porque se poupou em algum lado. E esse lado, o único onde ainda se vai conseguindo reduzir os custos, é o do costume, o lado mais fraco: o das pessoas que são exploradas diariamente para produzir estas peças em massa.
Enquanto cliente, se me fosse dada a opção de pagar mais um pouco por essas peças mais baratas com a contrapartida desse extra servir para melhorar as condições de trabalho nas fábricas do terceiro mundo, aceitaria de bom grado. E acredito que mais pessoas pensem como eu...
Mas, na impossibilidade de fazer isso, resta-me ir lidando com o sabor amargo desta realidade e fazendo o melhor que posso para consumir cada vez menos e de forma mais ponderada.
[Já agora, se tiverem sugestões de outros documentários do género deste digam-me por favor.]
Acho muito difícil combater o consumismo (desenfreado ou menos desenfreado), até porque como referes iria ter más consequências, pelo que a grande questão passa por combater a exploração de pessoas. Tomar medidas... Agora, como? Quem? O que poderá estar ao nosso alcance? Não sei...
ResponderEliminarMas faz pensar...olhar para uma t-shirt toda catita ou outra peça de roupa e imaginar a "podridão" que poderá estar por trás dela...
https://agatadesaltosaltos.blogspot.com/
Sim , infelizmente não é novidade nenhuma.
ResponderEliminarEu não compro quase roupa nenhuma, já faço a minha parte, acredito. =)
Beijocas
Supostamente depois desse maior incidente as empresas europeias e do dito primeiro mundo passaram a ser responsaveis pelas condiçoes de trabalho de quem subcontratavam também. não sei bem o que foi feito para fiscalizar isso, mas provavelmente poderia ser feito muito mais. Ao nível do consumidor também acho que é dificil atuar, muitas vezes ingrato, não sei bem o que fazer, deixar de consumir não é solução. Muitas vezes penso que mais vale uma peça de qualidade do que varias que não valem nada mais baratinhas e aplico isso em algumas circunstancias, como umas boas botas, uma carteira ou um bom casaco de Inverno. mas depois chegamos as camisolinhas, e t-shirts e bikinis e as boas intenções vão todas por água abaixo...
ResponderEliminarConfesso que também tenho alguns documentários na lista mas infelizmente, por falta de tempo, não vi ainda.
ResponderEliminarPela tua descrição, este também vai para a lista. Não é novidade nenhuma, tens razão, mas quando somos confrontados dessa forma levamos um choque de realidade.
Obrigada :)
Por cá também vi esse documentário e afetou-me. confesso. É uma realidade que sabemos que existe mas ouvir e ver torna a "coisa" mais real. Muita coisa deveria ser feita, por cá tenho tentado "reduzir" o consumo seja para mim seja para os miúdos. Não sei bem o que "deste lado" podemos fazer mais...
ResponderEliminar