quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Leituras (com uma recomendação daquelas mesmo boas)



"Jesus Cristo bebia cerveja", de Afonso Cruz. A escrita do Afonso Cruz, sempre muito poética, prende desde a primeira página. Nada é dito de forma simples pelo escritor, até o mais simples dos acontecimentos é sempre contado de forma muito rica (a um ponto que, tenho que confessar, por vezes torna-se algo exagerado). Quanto à história, é muito peculiar, e tem um desfecho que - pelo menos para mim - é bastante imprevisível. De uma forma que não me agradou particularmente (mas não vou desenvolver sob pena de trazer spoilers). De qualquer forma, era uma falha ainda não ter lido nada deste escritor.


A saga da família Walsh foi me dada a conhecer por uma colega há três anos, quando me emprestou o "Melancia", que gostei tanto de ler (falei dele aqui). Depois desse também gostei imenso do "Los Angeles" e também li o "Anybody out there" (que gostei um pouco menos).
A saga "Walsh family" tem 6 livros e cada um deles conta a história, na primeira pessoa, de uma de cinco irmãs irlandesas (o sexto livro é sobre a mãe delas). Acho que nem todos estão traduzidos (já li dois em inglês e dois em português). A escritora, Marian Keyes (irlandesa) e tem uma escrita que eu adoro: leve até quando descreve assuntos pesados (e sim, na maior parte dos livros os assuntos abordados são pesados - no caso deste livro o tema principal é a depressão), mas sempre descritos com um toque de ironia e humor que eu adoro.
Este "The mistery of Mercy Close" não me prendeu logo ao início pela história, mas a partir de metade eu já andava em pulgas para saber o final. E quando lá cheguei fiquei super chateada comigo mesma por não ter desconfiado que a resposta ao grande mistério seria aquela (também vos acontece, ficarem chateados quando não descobrem respostas aparentemente óbvias?).
Para quem queira uma leitura leve e divertida, mesmo que os temas abordados em grande parte dos livros não sejam, de todo, leves, aconselho muito a leitura de Marian Keyes.


Nunca experimentei o amor à primeira vista nem sei se ele existe, mas posso dizer-vos que com este livro experimentei o amor à primeira página. Logo nas primeiras páginas dei por mim a esboçar vários sorrisos com as descrições deliciosas do narrador da história - o Mohammed, um rapaz órfão de 14 anos que é acolhido, conjuntamente com outras crianças na mesma situação, por uma prostituta reformada.
A história é muito triste (para não variar, eu sei) mas tem uma mensagem de amor tão, tão bonita. Cheguei ao final com um aperto no coração, de tão bom que este livro é. É, sem dúvida (a par com o "Viver depois de ti", que tem um registo diferente mas adorei também) uma das melhores coisas que li nos últimos tempos.
[Quanto ao autor do livro, Romain Gary, tem uma história engraçada: foi o único escritor da história a ganhar por duas vezes o prémio Goncourt (prémio literário atribuído em França), que por regra só pode ser atribuído uma vez a um escritor. Acontece que este escritor, depois de ter ganho o prémio pela primeira vez, começou a escrever com o pseudónimo Émile Ajar, sem nunca dar a cara, tendo ganho o prémio pela segunda vez, com este "Uma vida à sua frente". Só se descobriu a identidade de Émile Ajar após a sua morte, tendo-se decidido manter a atribuição do prémio ao autor, não obstante esse facto violar as regras do prémio Goncourt.]

7 comentários:

  1. Adoro sugestões de leituras. Estas pareceram-me interessantes mas tenho tido tantas dificuldades para ler...

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  2. Obrigada pelas sugestões. O 1º e último vou certamente ler.

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  3. Já li o "Melancia" e o "Los Angeles" e não fiquei com vontade de ler mais nada dessa autora... mas o livro do Afonso Cruz deixou-me bem curiosa!

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  4. É sempre bom quando nos dão estas dicas de borla :P

    Beijocas

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  5. Lê o Para onde vão os guarda chuvas do Afonso Cruz, é o meu preferido dele (4,47 no goodreads!). também gostei muito do último, Nem todas as baleias voam.

    "-Porque estás tão sério?
    Se as suas emoções pudessem traduzir-se em palavras, seriam assim: Por causa da nota que tocas na cabeça, por causa das paredes que tens nos olhos, por causa das cicatrizes todas na tua pele, das rosas e da tristeza, por causa do coelho branco que está sempre a morrer, por causa do frio que sinto se chegar a quatro centímetros da tua presença, por causa das traças que voam à nossa volta, por causa dos sonhos que ainda não cumpri e porque me sinto sozinho como se estivesse pendurado no meio do Universo, preso a uma estrela muito distante, tão distante que não se pode ver a olho nu, nem nenhum astronauta lá chega, nem os olhos dos telescópios."

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    1. Ena, 4,47 é uma avaliação espetacular! Já está na lista para ler, obrigada pela recomendação =).

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