sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Cruzeiro pela Turquia e Grécia - última parte (e um banho de realidade pelo meio)

E assim chegamos aos últimos dias da minha viagem maravilhosa entre a Turquia e a Grécia. O dia 7, sexta-feira, foi ainda passado a bordo do Celestyal Cristal.
A última paragem antes de Istambul era em Lavrion, a 1 hora de Atenas, sendo que o barco só ficaria parado naquele porto durante cinco horas. Pesquisámos e não encontrámos nenhuma opção de transportes públicos viável que nos levasse a Atenas, pelo que a opção era ficar no barco (e desperdiçar a oportunidade de ficar com um cheirinho de Atenas) ou pagar 68€ por pessoa (auch!) e ir na excursão programada pelo navio conhecer a Acrópole e pouco mais. 
Foi então a única excursão que fizemos e, da minha parte, apesar de ser claramente um abuso de preço para aquilo que oferecem (transporte em autocarro, ida e volta mais visita à Acrópole com direito a excplicações - tanto sobre a Acrópole como sobre toda a história da Grécia até à atualidade), atendendo a que era a nossa única opção para conhecer Atenas, não me arrependi nem um pouco (apesar de tencionar voltar com mais tempo). 

Dispensa apresentações.





A Grécia tem à volta de 11 milhões de habitantes. Quase metade está em Atenas (portanto este aglomerado é apenas um pequeno exemplo do que é aquela cidade em termos de contruções).

Antes do meio dia já estávamos de volta ao barco, desta vez para já só sair de vez, na manhã do dia seguinte, em Istambul. Istambul é linda de qualquer forma, mas num dia de sol como este (ao contrário do que tinha acontecido na semana anterior) é ainda mais.

Não, não é Nova Iorque. É mesmo Istambul.

A vista da Mesquita Azul e da Hagia Sofia, ainda dentro do barco.

O resto do Sábado (e a manhã de domingo) foi para aproveitar a cidade maravilhosa que é Istambul. Visitámos a Mesquita Azul e a Hagia Sofia (contruções fantásticas, não conseguia parar de olhar para elas) e ao final da tarde fomos passear ao Grand Bazaar, um dos maiores e mais antigos mercados cobertos do mundo (onde, mais uma vez, perdi a cabeça e comprei um anel e um pendente de prata que são a coisa mais linda).


Eu juro que o calçado igual e a perna levantada não foram combinados (somos pirosos mas com limites).


O dia em Istambul foi mágico, maravilhoso. Já a noite foi devastadora, e eu passo a explicar o porquê. Estávamos nós a chegar ao hotel vindos do Grand Bazaar, já o sol se estava a pôr, quando começámos a ver imensos refugiados (durante o dia não sei onde andam, porque na manhã seguinte voltaram a desaparecer completamente). O primeiro que me deixou toda arrepiada foi um menino que não devia ter mais de 4 anos, que estava sozinho, sentado a um canto, com dois pacotes de lenços na mão (devia estar a vendê-los), com a mãozinha levantada mas a dormir um sono profundo. Uma criança, quase um bébé, a vender lenços de papel para sobreviver. Depois disso vimos vários grupos de meninas, também elas sozinhas, que não tinham mais de 10 anos. Casais novos com bébés ao colo eram muitos também. Todos a pedir ajuda. E nós com uma sensação de impotência tremenda por não conseguirmos ajudar todos.
Houve outra menina que também me tocou particularmente porque estava sozinha e não devia ter mais de 4 anos. Fomos ter com ela, demos-lhe água e comida (e foi uma espécie de alívio quando ela começou a brincar com a comida em vez de comê-la, queria dizer que não estava esfomeada) e sorria e brincava sozinha, com um ar feliz de quem não faz ideia do que está a passar (entretanto chegou ao pé de nós uma senhora mais velha, que devia ser avó da menina).
Uma pessoa vê estas cenas na televisão e fica bastante sensibilizada, mas assistir ao vivo é mil vezes mais doloroso.  Só conseguia sentir-me estúpida e fútil ao pensar nas compras supérfluas que tinha andado a fazer durante a tarde, quando aquelas pessoas não têm absolutamente nada. E pensar que há gente que é contra acolher estas pessoas que perderam tudo (e que a única coisa que fizeram para isso foi nascer no país errado), e dar-lhes uma vida digna, é coisa que eu nunca vou entender, independentemente do argumento que usem. A incapacidade que tanta gente tem de se pôr no lugar do outro mete-me nojo, muito nojo.
Bem, adiante. Na manhã do dia seguinte aconteceu o que tinha acontecido na véspera: nada de vê-los em lado nenhum (o que foi uma pena, porque não consigo pensar num destino melhor para dar às liras que não tínhamos gasto quando a viagem chegou ao fim).
E foi assim que deixámos Istambul, com um banho de realidade que nos faz pensar no quão injusta é a vida, que permite a uns tirar férias de 10 dias no estrangeiro, enquanto a outros tira tudo.

6 comentários:

  1. Ver pobreza extrema e acima de tudo esse nível de miséria humana diante dos nossos olhos é realmente devastador como dizes e faz-nos rever as nossas prioridades. No entanto, pela descrição dessas pessoas (e dos seus comportamentos) não me parece que fossem refugiados (destas levas actuais), mas sim mendigos residentes. Digo isto pois estive em Março em Istambul e dei precisamente com essas mesmas imagens. Na altura disseram-me que se tratava (possivelmente não todos mas muitos) de máfias de pedintes, mesmo as crianças pequenas. É horrível, mas temo que seja mesmo verdade.

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  2. Calíope, perdoa-me a ignorância mas o que são "máfias de pedintes"?
    Sinceramente quem são aquelas pessoas é o de menos, se tinham fome e/ou precisavam de ajuda considero o dinheiro e comida que lhes demos não foram mal empregados. Uma das meninas que nos abordou aceitou o gelado da minha amiga sem hesitar, não torceu o nariz porque não era dinheiro. E os casais, muitos deles, tinham papéis a dizer que eram sírios (claro que pode ser mentira mas é como digo, se precisavam de ajuda, a nacionalidade é o que menos importará, se bem que confesso que o drama dos refugiados me sensibiliza de forma particular, é verdade).
    E quando lá estiveste com certeza já lá existiriam refugiados sírios, afinal de contas a guerra não começou este ano e estamos a falar dum país que faz fronteira com a Síria, deve ser relativamente fácil para eles chegarem à Turquia.
    Mas o mais importante é ajudarmos quem precisa, independentemente de tudo o resto =).

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  3. Sim, sim, não te estava a criticar de maneira nenhuma. Pedintes ou refugiados são acima de tudo pessoas, que infelizmente estão numa situação degradante. No entanto, o que chamei de "máfias de pedintes" são sistemas organizados que existem em que há pessoas (=pedintes) que têm de receber x dinheiro por dia e que o têm de entregar a um "chefe"/"chulo" ou o que lhe queiram chamar. Aqui em Viena há disso, mas em Istambul contaram-me (e mostraram-me) casos em que os pedintes eram crianças e depois via-se o chulo lá perto, mas como quem não queria a coisa a controlar a cena toda. É de partir o coração ver crianças (bebés?) tão pequenos nesses ciclos viciosos de onde dificilmente sairão. Nós também lhes demos bolachas e assim porque não conseguimos "não fazer nada".

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  4. Realmente esses momentos deixam qualquer pessoa devastada. Também não percebo as vozes contra os refugiados. São pessoas à procura de uma vida melhor, mais digna e mais feliz. Todos temos o direito à felicidade!

    Outra coisa, gostei imenso das fotos! A em que se vê Istambul é magnífica! Parabéns!

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